Grande número de pessoas acredita que todos os índios existentes nas terras que seriam chamadas de Brasil falavam ou ainda falam uma só língua, a tupi. Isso ocorre porque a maior parte dos indígenas que habitavam o litoral brasileiro na época da chegada dos portugueses, em 1500, pertencia ao tronco linguístico tupi. Essa foi a primeira língua com a qual os europeus tiveram contato, tendo em vista os relatos lusitanos da época.
Enquanto a maior parte da população brasileira fala um único idioma, o português, uma parte dela, os indígenas, falavam e falam pelo menos 170 línguas diferentes, e possivelmente tantas outras ainda desconhecidas.
De modo geral, os grupos indígenas que viviam no Brasil formavam tribos, isto é, grupos de pessoas que possuem a mesma descendência genética e biológica e que habitam uma mesma área, falam a mesma língua e possuem os mesmos costumes. Esse conjunto de semelhanças fazia com que os indígenas das diferentes tribos se reconhecessem entre si e se mantivessem unidos, mesmo quando não havia um chefe ou uma autoridade para a tribo.
Os indígenas se organizavam em aldeias independentes, porém, podia haver união entre elas para enfrentar situações específicas, como a defesa de ataques externos de outras tribos. Em boa parte das comunidades indígenas os trabalhos eram realizados em cooperação e a divisão de tarefas entre homens e mulheres era bem definida, como ainda o são, na atualidade.
Para que possamos entender um pouco melhor a forma como os indígenas se organizam, é de grande importância entender como é a sua relação com o meio ambiente.
Pela extensão da área que ocupavam, bem como pela variedade geográfica e de clima, os indígenas sofreram muitas influências ao longo do tempo. Muitos dos seus costumes foram modificados pelo deslocamento das tribos de seu local de origem, e são muitas as variações entre os grupos.
Podemos dizer que, na produção de alimentos, os grupos indígenas brasileiros utilizavam – e ainda utilizam – formas bastante diretas e simples de exploração dos recursos da terra, entre elas, a pesca, a coleta e a caça. Além disso, também confeccionavam seus próprios instrumentos de trabalho, tais como armas de caça, armadilhas, canoas, cestas e potes, transportavam seus alimentos, colhiam-nos e os transformavam.
A terra de onde podiam extrair os bens necessários para a sobrevivência era apenas o meio para se viver e, portanto, quando os recursos começavam a diminuir, os grupos mudavam de lugar, migravam.
A agricultura, de modo geral, limitava-se a uns poucos produtos, como a mandioca-brava, o aipim, a abóbora, a ervilha, o cará, a pimenta e o abacaxi.
Como geralmente todos os indivíduos se dedicavam a todas as atividades, não existia um trabalho ou uma tarefa que apenas um deles sabia executar, sendo difícil existir produtos para serem trocados ou vendidos entre as pessoas de um mesmo grupo. Assim, não geravam produtos de interesse além do que necessitavam para a própria sobrevivência e desconheciam a prática do comércio. Podia ocorrer a troca de produtos entre tribos diferentes com uma finalidade social, buscando estreitar laços de amizade entre os seus membros.
A guerra praticada por muitos dos grupos indígenas que viviam nesta região e na maior parte do território que viria a ser chamado de Brasil era, em muitos casos, como uma atividade sagrada. Ser guerreiro e forte eram qualidades muito valorizadas. As guerras entre as tribos eram frequentes devido aos deslocamentos constantes provocados pela busca de novas terras, pela manutenção ou conquista do domínio exclusivo dos grupos sobre um determinado território ou por rivalidades entre as tribos.
Entre as tribos que já habitavam a América do Sul antes da chegada dos europeus, havia as de origem guarani. Essas foram as mais afetadas pela presença do homem branco em suas terras. Mesmo assim, seu legado permanece até hoje vivo em nossa cultura.
Os índios Guarani e Caingangue ocupavam as terras do litoral paranaense, as florestas subtropicais e as áreas próximas ao rio Paraná. Os Guarani tiveram os primeiros contatos com os espanhóis no oeste e os Caingangue com os portugueses, no leste paranaense.
SCHMIDEL, Ulrich. Os Carios. 1559. Gravura.
índios Guarani
Tronco linguístico: para facilitar o seu estudo, as línguas indígenas são agrupadas pelas semelhanças. São várias as classificações, porém, a mais aceita é aquela que divide os índios brasileiros em quatro grandes troncos linguísticos: tupi, jê, nuaruaque e caraíba. De acordo com essa classificação, existem ainda várias línguas que não têm relação comprovada com nenhum dos troncos citados, como é o caso dos nambiquaras, dos guaicurus, dos tucanos, entre outros.
Entre os índios do grupo tupi estão os tupiniquins, os tupinambás, os tamoios, os carijós. Entre os jês, estão os aimorés, os timbiras, os caiapós, os xavantes. Entre os caraíbas, podemos citar os bacairis e os pimenteiras. E, finalmente, entre os nuaruaques, estão os aruás, os parecis e os terenas.